Raio X em crianças
O que os pais devem saber sobre exames radiológicos em crianças, para evitar o risco de alterações genéticas e o desenvolvimento de doenças como o câncer
Muitos pais ficam em dúvida na hora de permitir a realização de exames radiológicos em seus filhos. Como o assunto é pouco difundido no Brasil e não existem pesquisas esclarecedoras a respeito, impera no consciente coletivo o medo de que a radiação ionizante possa causar problemas de saúde, como a morte de células do corpo, o aparecimento de tumores, doenças de pele, entre outras enfermidades. Isso não deixa de ser verdade, mas, para acontecer, depende de muita negligência profissional e do uso desnecessário da radiação ionizante ao longo de tratamentos de saúde.
Justamente por não possuirmos sensores de radiação ionizante, não percebemos se estamos recebendo doses adequadas quando nos submetemos a um exame radiológico. Ninguém sente absolutamente nada quando se tira uma radiografia de qualquer parte do corpo. Os raios X são invisíveis, inaudíveis, inodoros e insípidos. Sua ação é microscópica. Por isso, no caso de doses altas, a síndrome aguda da radiação surge logo após a exposição e no caso de doses baixas, os efeitos podem aparecer depois de anos. Todavia, você nunca vai perceber uma relação direta entre a causa e consequência, principalmente, se o prejuízo à saúde for retardado.
De acordo com a Alliance for Radiation Safety in Pediatric Imaging (Aliança para Segurança Radiológica em Imagem Pediátrica), ainda não há evidências concretas de que a radiação usada em radiografias cause câncer. Entretanto, alguns estudos de grandes populações expostas à radiação mostram um pequeno aumento no risco de contração da doença, principalmente, em crianças. Essa chance aumenta na medida em que os pequenos são expostos de forma indiscriminada, para a realização de exames que seriam dispensáveis. Isso por que a nocividade da radiação ionizante aumenta quanto menor for a massa corpórea da pessoa que sofre a irradiação.
O diretor secretário do Conselho Nacional de Técnicos em Radiologia (CONTER), Haroldo Feliz da Silva, afirma que já tomou conhecimento de situações inadmissíveis. “Já recebemos denúncia de crianças internadas em unidades de tratamento intensivo que estavam realizando um exame radiológico por dia, como se fosse um exame de rotina. Isso é errado e, certamente, vai trazer prejuízos para a saúde daquela pessoa no futuro. Exames que usam raios X como fonte só devem ser utilizados quando sua necessidade for justificada. Principalmente, quando se trata de crianças”, afirma.
De acordo com a especialista Preetha Rajaraman, em artigo publicado no site British Medical Journal, médicos devem ter cautela ao indicar um exame de raios X a uma grávida ou recém-nascido, pois a exposição excessiva pode trazer prejuízos. Rajaraman estudou 2.690 casos de câncer infantil e 4.858 crianças saudáveis. Os resultados mostraram um risco ligeiramente aumentado para todos os tipos de câncer e leucemia após a exposição de mães ou crianças aos raios X.
Segundo pesquisas da Aliança para Segurança Radiológica em Imagem Pediátrica, o risco de desenvolvimento de um câncer durante a vida de alguém é de 20 a 25%. Ou seja, a cada mil crianças, de 200 a 250 vão desenvolver tumores ao longo de suas vidas, mesmo que nunca tenham sido expostas à radiação médica.
A estimativa do aumento do risco de desenvolver um câncer a partir de uma única tomografia, por exemplo, é estimado em torno de 0,03 a 0,05%. Essa informação mostra que o risco de desenvolver tumores a partir de radiografias é extremamente baixo, mas não pode ser descartado. Além disso, deve-se considerar o efeito estocástico da radiação, pois, a partir da realização de vários exames ao longo da vida, o efeito acumulativo da radiação pode causar a alteração genética de células do organismo e, a partir daí, vários problemas podem se desencadear.
O que são os raios X?
Feixes invisíveis de radiação ionizante que atravessam o corpo e sofrem alterações conforme encontra diferentes tecidos, para criar uma imagem bidimensional dos órgãos internos. São emissões eletromagnéticas de natureza semelhante à luz visível.
Você sabia?
Todos nós somos expostos diariamente a pequenas doses de radiação do solo, das rochas, do ar, da água e radiação cósmica. Esse tipo de irradiação é chamada radiação natural ou de fundo. Mas não tem problema, ela não faz mal à saúde.
Para você entender melhor a relação entre essas grandezas, veja a comparação entre a dose de radiação absorvida durante alguns exames radiológicos e a radiação natural a que estamos expostos no dia a dia:
Radiografia convencional de tórax = 1 dia de radiação natural
Tomografia de crânio = Equivale a cerca de 8 meses de radiação natural
Tomografia de abdome = Até 20 meses de radiação natural
Mas, se não sou especialista em radiologia, que cuidados posso tomar para proteger minha criança da radiação ionizante?
– Usar exames de imagem apenas quando houver uma necessidade ou benefício claro;
– Realizar a radiografia somente da área que se pretende examinar. Sempre utilizar a menor dose de radiação possível;
– Evitar múltiplos exames em curtos espaços de tempo;
– Usar métodos de diagnóstico por imagem alternativos, como ultrassom e ressonância magnética, que não utilizam radiação ionizante em suas fontes.
Segundo a presidenta do CONTER, Valdelice Teodoro, se, mesmo com essas informações, você ainda se sente preocupado em expor sua criança à radiação ionizante, converse com o médico que solicitou o exame e exponha a sua opinião. “Fale também com o técnico que realizará o procedimento, para que ele adote todos os procedimentos de segurança necessários e utilize os equipamentos de proteção individual, para reduzir a área de exposição. Em todo caso, também vale a pena consultar um segundo especialista, para verificar se aquela é a melhor alternativa para o tratamento”, finaliza.
Fonte: www.conter.gov.br