Denúncia
HPS de Porto Alegre: vazamento de radiação pode ter provocado a morte de dois funcionários. Trabalhadores denunciam sucateamento no setor
O Hospital de Pronto Socorro (HPS) de Porto Alegre está na UTI. Conforme denúncia dos técnicos de Radiologia aos vereadores da Capital, há cinco equipamentos de raio-X no hospital. Todos foram instalados em 1944, quando a instituição foi fundada.
Desses, só dois funcionam há cinco anos, mas nenhum para atendimento de politraumatizados, que é quando uma pessoa tem várias fraturas, ocasionadas por acidentes graves. O HPS é a principal referência para acidentados na Região Metropolitana, Vale do Sinos, Litoral e até mesmo para o interior do Estado, em casos graves.
No entanto, a qualidade dos exames é prejudicada. Uma servidora, que não quis se identificar por medo de represálias, diz que, além da dificuldade de fazer os exames, a revelação das chapas faz com que as imagens saiam borradas. De uma média de 200 pacientes atendidos por dia que precisam fazer raio-X, a funcionária diz quantos conseguem fazer exames que tenham qualidade suficiente para receber um laudo de um médico radiologista.
“Ultimamente nenhum. Porque, quando se consegue uma imagem boa, a máquina que faz a revelação arranha o filme. Sai uma porcaria. Isso é muito triste. Há quinze anos, quando eu entrei no HPS, não era um raio-X de qualidade, mas era bem melhor. Não tem manutenção. Esse senhor que faz o atendimento quando estraga me disse várias vezes que esses aparelhos não têm peça de reposição; são muito antigos, tem que trocar, tem que jogar no lixo e comprar novo”, revela.
Existem, pelo menos, dois laudos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) atestando que os equipamentos estão vazando radiação.
“Mês passado, dois colegas faleceram de câncer. Eu também já tive câncer. Ou seja: está vazando radiação”, enfatiza.
Para piorar a situação, o único tomógrafo está estragado de novo. O equipamento já havia ficado uma semana sem funcionar no início de julho. Exames de quase cem pacientes tiveram que ser transferidos. Agora, os testes estão sendo enviados para os hospitais de Clínicas, Cristo Redentor ou São Lucas da PUC.
No último sábado, o secretário municipal da Saúde, Carlos Henrique Casartelli, visitou o HPS, chamado pelos médicos devido à falta de condições de trabalho. Em nota enviada pela assessora de imprensa Carmem Jasper, a secretaria afirmou o seguinte:
“A Secretaria Municipal de Saúde esclarece que o Hospital de Pronto Socorro (HPS) conta com sete aparelhos de raio-X (dois portáteis) e um tomógrafo computadorizado. Atualmente, estão em reparo dois dos equipamentos de raio-X. Ressalta que a substituição da peça, vinda de fora do Estado, já está sendo feita. Portanto, o aparelho deve voltar a funcionar ainda hoje. Os técnicos ainda não identificaram o problema técnico do tomógrafo. Por isto, ainda não foi consertado.
Os pacientes de exames de coluna e também de abdômen estão sendo encaminhados para os Hospitais Cristo Redentor ou Clínicas de Porto Alegre (procedimento habitual entre a rede hospitalar). Portanto, sem prejuízo de atendimento para estes pacientes”.
Ainda em 16 de fevereiro deste ano, em reportagem de Tatiane de Sousa, a direção do HPS informou que apenas um dos equipamentos estava em manutenção. Naquele dia, o diretor-geral do hospital, Júlio Ferreira, afirmou que os problemas foram pontuais e não causaram prejuízo no atendimento aos pacientes, nem mesmo os politraumatizados. Ferreira revelou que o HPS está finalizando um projeto para dar início à licitação que vai viabilizar a compra de apenas um novo equipamento de raio-X, avaliado em R$ 300 mil.
Fonte: Conter